terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dores e esperanças

E assim deu-se a nossa despedida...
O nó atravessado na garganta começara a apertar desde cedo. Desde quando conversávamos na cozinha, em volta da mesa vazia.
Eu evitava o contato visual seguido de palavras esperançosas de que tudo daria certo. Evitava, para que o sofrimento parecesse menor. Mas não era!
Eu tinha medo de chorar na frente dele! Não queria tornar ainda mais difícil a nossa dor, ainda que para isso precisasse me conter e sofrer em dobro, e sozinho.
Já do lado de fora da nossa casinha de tijolos, o sol ardia... E os meus olhos semi-fechados escondiam a vermelhidão das lágrimas que estavam prestes a cair.
Eu não sabia até quando iríamos aguentar segurar aquele nó cada vez mais apertado e sufocante. O pai também tentava não mostrar o quanto sofrera com a sua partida.
Tudo o que eu queria dizer naquele momento era exatamente: Eu o amo!
Mas as normalidades do contexto histórico não me permitiam tamanha sensibilidade.
Por que tudo tem que ser tão difícil?
A nossa dureza sentimental imbecil que não permitia que homem chorasse estragava tudo. Ainda que eu tivesse apenas onze anos de idade.
Aprendi certos costumes inúteis desde cedo, não queria contrariar.
As lágrimas ali contidas até o momento... Uma palavra e estragaria tudo!
Enfim, o abraço!
O abraço...
E os meus olhos já tão rasos d’emoções mútuas transbordavam...
Não consegui.
Não havia mais como.
Os soluços...
E o meu pai também chorou.
De nada adiantou conter as emoções por tanto tempo,
Mas foi um alívio para mim aquele momento.
Esqueçamos essas irregularidades e combinemos uma coisa: A partir de hoje nunca mais deixaremos de expressar os nossos sentimentos.
É tudo tão passageiro e depressa, não podemos perder tempo.
Não me esqueço do dia em que papai saiu de casa para ir em busca do nosso sonho. Nunca me esqueço que uma lágrima caíra dos olhos dele. Nunca me esqueço que um abraço ele me dera, talvez com medo de não mais me ver. Nunca me esqueço das suas mãos fortes e calejadas acenando um tchau tão doloroso e preciso. Nunca me esqueço da nossa coragem... Nunca, nunca me esqueço!
E ao ver que a sua imagem diminuía naquela estradinha barrenta, corri atrás dele como quem quisesse segurar as suas mãos e não deixá-lo ir embora...
Corri,
Corri até cansar...
Chorando...
Ele se foi...
Mas sei que voltará!


[Laiana Vieira]

Um comentário:

Jân Bispo disse...

Magnannima como sempre, sua escrita está cada dia mais perfeita, aliás devo admitir que eu me emocionei de verdade aqui, claro que não chorei por conta de todo este tal contexto histórico social (não fica bem chorar em plena lanhouse) kkkkkkk... bom agora sem brincadeiras muito bom mesmo, verdadeiro, emocional, os sentimentos foram transmitidos com explendor, enfim amo vc! rs