Estava prestes a anoitecer, ele sentou-se no banco de madeira antiga a frente da sua casa, numa varandinha improvisada, com o chapéu de couro nas mãos. Olhava para longe, olhava a linha do horizonte, numa paisagem na qual predominavam os cactos esverdeados, uma terra seca e rachada, pedras pintadas e carcarás. Olhava e não acreditava no que via... Ele nada via. Nada além da secura de seu passado, que agora presente e tão provável futuro. Vida árdua! De tanto lutar com unhas e dentes, perdera os dentes, ganhara apenas calos nas mãos. Seus olhos permaneciam fixos no nada, suas mãos apertavam firmemente o couro que segurava e o vento batia em seu rosto enquanto ele pensava...
Sua amada lhe trazia um café que acabara de preparar. Ela, com sua saia cumprida, um lenço sobre os cabelos um tanto embranquecidos pelos anos que já vivera e uma bandeja nas mãos. Segurava a bandeja sob duas xícaras de barro escuro, espalhando pelo ar o vaporzinho cheiroso do café.
-O que estás a fazer, homem?
-Estou a esperar esse café quentinho e o aconchego seu!
Ela serviu o café, sentou-se ao seu lado, olhou-o nos olhos e perguntou com cansaço:
-Responda-me com franqueza, você acha que foi feliz ao meu lado?
Ele franziu um pouco a testa, tomou um grande gole de café, colocou a xícara no largo corrimão da varanda, olhou-a nos olhos, azulados como o céu de dia, arriou os ombros e sorriu... Sorriu de verdade, deu uma gargalhada inesperada, daquelas que mesmo sem dentes para compor o sorriso ainda se faz presente num momento tão singular. Ela, com expressão de incógnita, calou-se de vez! Ele suspirou, pegou na mão dela e exclamou:
-Fui o homem mais feliz desse mundo, mulher! Só por ter você ao meu lado! Acha que preciso de mais algo nessa vida?
Abraçou-a e continuou:
-Tudo que eu preciso, tenho. Uma casa só para nós, uma enxada para trabalhar, a melhor mulher do mundo e um cafezinho todo fim de tarde... Ah! Igual a esse cafezinho não existe não!
Sua amada lhe trazia um café que acabara de preparar. Ela, com sua saia cumprida, um lenço sobre os cabelos um tanto embranquecidos pelos anos que já vivera e uma bandeja nas mãos. Segurava a bandeja sob duas xícaras de barro escuro, espalhando pelo ar o vaporzinho cheiroso do café.
-O que estás a fazer, homem?
-Estou a esperar esse café quentinho e o aconchego seu!
Ela serviu o café, sentou-se ao seu lado, olhou-o nos olhos e perguntou com cansaço:
-Responda-me com franqueza, você acha que foi feliz ao meu lado?
Ele franziu um pouco a testa, tomou um grande gole de café, colocou a xícara no largo corrimão da varanda, olhou-a nos olhos, azulados como o céu de dia, arriou os ombros e sorriu... Sorriu de verdade, deu uma gargalhada inesperada, daquelas que mesmo sem dentes para compor o sorriso ainda se faz presente num momento tão singular. Ela, com expressão de incógnita, calou-se de vez! Ele suspirou, pegou na mão dela e exclamou:
-Fui o homem mais feliz desse mundo, mulher! Só por ter você ao meu lado! Acha que preciso de mais algo nessa vida?
Abraçou-a e continuou:
-Tudo que eu preciso, tenho. Uma casa só para nós, uma enxada para trabalhar, a melhor mulher do mundo e um cafezinho todo fim de tarde... Ah! Igual a esse cafezinho não existe não!
Ela, que antes insegura, agora sorria com seu marido... E começaram, os dois, a relembrar o tempo antigo. Namoricos no portão, festa de casamento, cenas de ciúmes, reconciliações...
O céu já azul marinho, todo coberto de estrelas a brilhar era o cenário perfeito de uma noite de luar no sertão...
Caminhando lentamente uma vizinha foi passando com seu pequeno filho nos braços, cumprimentou o casal dizendo "boa noite". Ambos responderam juntos como se tivessem ensaiado. A senhorinha sem parar de andar completou:
Caminhando lentamente uma vizinha foi passando com seu pequeno filho nos braços, cumprimentou o casal dizendo "boa noite". Ambos responderam juntos como se tivessem ensaiado. A senhorinha sem parar de andar completou:
-E essa chuva que não vem?
Ele respondeu:
-Um dia ela chega, Dona! Um dia ela chega!
Sem mais nenhuma tentativa de puxar assunto a vizinha se foi.
Ele mal esperou sua mulher tomar todo o seu café e convidou-a:
-Vamos entrar mulher. Que hoje a noite vai ser "arretada"!
Animados, sorriram.
A porta se fechou!
Ele, assustado com o "boa noite" do segundo filho da vizinha que voltara de longe com uma lata d'água na cabeça, movimentou-se bruscamente procurando a xícara de café, e, rancoroso do passado, disse para si mesmo: - Que peste é que faço nesse banco? A mulher se foi há mais de oito anos e ainda sonho com ela! É o jeito parar de dormir.
(Laiana Vieira)